sexta-feira, 3 de junho de 2011

IGNORÂNCIA OFICIALIZADA - (texto de Maria Luiza Vargas Ramos)



IGNORÂNCIA OFICIALIZADA

 
 
           Parodiando Castro Alves: Senhor Deus dos analfabetos/ dizei-me então senhor Deus/ se é mentira ou se é verdade/ tanto horror num Ministério da Cultura!
 
         Ninguém nasce sabendo, ninguém tem culpa de não ter sido mandado para a escola e não ter sido ensinado a ler ou a escrever. Quem tem culpa é a família, a sociedade, os governos.
         Agora, ensinar errado é crime, é vergonhoso, é uma afronta aos séculos de estudos, de pesquisas linguísticas, de dicionários, de enciclopédias, de gramáticas!

          Sabe-se que escreve melhor quem lê mais, isso é ponto pacífico. Que direito temos, então, de grafar de forma errada o pouco que esses alunos vão ler? E como a leitura, nesse caso, poderá auxiliá-los na grafia certa das palavras?
         Todo mundo tem condições de aprender a falar e a escrever corretamente! Digo isso com conhecimento de causa. Além dos trinta anos de magistério, convivo com crianças e adultos que aprendem o tempo todo. Se minha netinha,  que recém completou três anos, consegue falar as palavras no plural, até concordando verbos, porque devemos ensinar a um adulto analfabeto a dizer "os livro"?! Será que os problemas de concordância do ex-presidente deverão virar norma gramatical?
 
          Desistir de ensinar equações de segundo grau e cálculos complexos a quem passou fome na infância e não desenvolveu seus neurônios adequadamente é até aceitável.
         Já utilizar a língua falada nas periferias e nos ambientes menos escolarizados como norma culta, sem dar a essas pessoas a chance de se comunicar adequadamente e postular uma colocação melhor, chega a ser criminoso.
        Por isso reluto tanto em aderir às tais reformas da língua portuguesa. Porque não sinto credibilidade em quem as propõe.
 
        Quando um órgão criado para determinar as maiores competências no âmbito da cultura de um país resolve chamar de "preconceito linguístico" a norma culta da língua que usamos; quando, ao invés de ensinar prefere tolerar as formas equivocadas  e quando essas aberrações são impressas e distribuídas em cartilhas pagas com o dinheiro o público, só me resta agora plagiar Boris  Casoy:
 
        -Isso é uma vergonha!

(recebido por e-mail em 03/06/2011)

QRCode

Nenhum comentário:

Postar um comentário