terça-feira, 12 de junho de 2012

Oramos nao para pedir, mas para estar com Deus

Oramos não para pedir, mas para estar com Deus - (De Natanael Costa)

Sempre que penso sobre esse pedido dos discípulos (Lc 11,1), caio na conta de que algo está errado com a igreja de Cristo. Decerto, deveríamos orar mais e com mais qualidade. A verdade, no entanto, parece ser que oramos pouco, o fazemos de qualquer jeito e, no fundo, não nos importamos tanto com isso. Ao contrário dos discípulos que desejavam aprender a orar e do salmista cuja alma suspirava pelo momento de estar diante do Senhor (Sl 42), a maioria de nós cristãos contemporâneos segue levando a vida segundo as prioridades invertidas de agendas mal-organizadas onde raramente sobra espaço para o encontro com Deus na oração.
Talvez você, como eu, também experimente algo disto. Uma pergunta então emerge como inevitável: por que orar é tão difícil?
Creio que muito de nossa dificildade no tocante à oração tenha a ver com uma enorme quantidade de má compreensões sobre a prática que acabam por distorcer sua natureza e roubar o seu sabor. Não é o caso aqui de mencionarmos todas elas. Uma, no entanto, merece nossa atenção por estar, quem sabe, na origem de todas as demais: o fato de que freqüentemente não oramos em busca de Deus, mas em busca de solução para os nossos problemas imediatos. Ao invés de vivermos a oração como diálogo afetuoso com o Deus de nossa salvação, a experimentamos como tentativa angustiada de responder às "urgências" desta nossa vida pós-moderna corrida e atribulada. Ora, a oração não é apenas súplica, mas relacionamento, experiência de encontro com o Divino de onde tudo se deriva. A súplica faz parte da oração, mas orar é certamente mais do que suplicar apenas. Isso, obviamente, não significa que não possamos buscar o socorro de Deus quando oramos. Pelo contrário, podemos sim e devemos fazê-lo. Todavia, é bom ter sempre em mente o que disse Jesus aos doze: "o vosso Pai sabe o de que tendes necessidade, antes mesmo que lho peçais" (Mt 6:8).
Quando aprendemos a orar em busca de Deus descobrimos que muitos dos nossos problemas são, na realidade, imaginários. Eu, então, não deveria me angustiar por causa das prestações do meu carro novo, simplesmente porque não preciso de um carro novo – ao menos não de um do último tipo. Da mesma forma, eu não deveria perder o sono porque estou fora do padrão estético atual, simplesmente porque beleza real não tem padrão. E assim, aos poucos, o encontro com Deus na oração vai nutrindo meu discernimento e enchendo a minha alma enquanto reordena o mundo em que vivo, de um lado, ajustando meus valores e, de outro, apontando minhas reais necessidades.
Por aqui se vê que oração, ao contrário do que muitos pensam, não tem a ver com alienação ou fuga do mundo, mas sim com encontro com Deus que propicia um retorno transfigurado ao mundo para nele viver em novidade de vida. Pois a oração nos leva à fonte que sacia nossa sede de sentido e de paz. Com efeito, é sobretudo por meio da oração que o homem chega à plena consciência de sua condição humana real para além dos papéis sociais que é constrangido a desempenhar. E assim, faz a experiência fundamental de sua filiação divina. De outra parte, também aprende a perceber o outro como seu irmão e o mundo como vocação de Deus. Tal experiência doravante fundamenta e redireciona toda sua existência. Quem cultiva o hábito da oração experimenta a vida como dom e a vive como que tomado por uma paixão integrante e reconciliante com o cosmos que o rodeia.
Resta dizer, enfim, que aprender a orar requer disciplina e persistência, pois implica trilhar um longo caminho. Com efeito, é preciso orar para se aprender a orar. O mesmo é verdade quanto ao desejo: é preciso gostar de orar para se ter vontade de seguir orando. Em contrapartida, quanto menos se ora, menos se gosta e se tem desejo de fazê-lo. E quando nos damos conta, Deus já não é mais do que uma vaga idéia que pouca ou nenhuma diferença faz em nossa vida.
Reflitam amados...

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